another one bites the apple
Resuminho da situação: A Apple entrou num acordo com o site Think Secret, um site de fãs que fofoca sobre possíveis lançamentos da companhia. Uma batalha judicial tem sido travada desde que os sites PowerPage, Apple Insider e Think Secret vazaram informações sobre o lançamento do MacMini em 2005. A Apple queria desesperadamente que as fontes dos sites fossem reveladas. No acordo foi estipulado o desligamento do site e provavelmente uma polpuda soma em dinheiro.
Não discuto que manter segredos industriais seja importante para a sobrevivência de uma companhia, assim como o boca-a-boca/hype. A questão era que os blogueiros citavam o direito jornalístico de manter suas fontes em sigilo, enquanto a Apple argumenta que blogueiros e donos de sites não são jornalistas e portanto não têm os mesmos direitos.
Desenvolvo esse argumento(canalha) para concluir que quem não está protegido pelos mesmo direitos não está atrelado às mesmas obrigações. O que para mim é algo pior ainda, e que coloca aqueles que levam a sério sua posição como jornalistas livres em uma posição vulnerável e de maior descrédito.
Até grandes veículos se pronunciaram em favor dos autores durante o caso. O que pra mim é uma notícia feliz que ajuda a colocar essa história sob um ponto de vista agridoce.
Serem reconhecidos e defendidos por veículos tradicionais é uma conquista importante para os fornecedores independentes de informação (proclamo direitos autorais sobre este termo!). Infelizmente isso se deu sob a luz de um processo feio, onde uma corporação mais uma vez se coloca à frente do direito de um indivíduo. Essa é a diferença entre um jornalista tradicional e um fornecedores independente de informações, ele dá pessoalmente sua cara a tapa constantemente, e não tem uma empresa por trás que pode ajudá-lo (se caso for de seu interesse, claro).
Outro problema desse caso é que ele pode gerar um precedente legal (no caso dos EUA) ou moral (no caso do resto do mundo), estipulando que blogueiros, donos de site e jornalistas cidadãos em geral, não são jornalistas e são obrigados a revelar tudo que uma grande companhia quiser (A Apple chegou a ter acesso a e-mails). Todo tipo de situação em que o poder de corporações é legitimado em detrimento do poder e liberdade individual me assusta e me enraivece, especialmente num caso como esse, contemplando uma atividade da qual (mesmo que levemente) faço parte.
Como foi feito um acordo, não há precedente legal. Mas a mensagem que a Apple manda é "te dou uma grana, e você cala a sua boquinha pra sempre". De fato colocando uma etiqueta de preço na liberdade de expressão de um sujeito que só queria partilhar sua curiosidade por algo que gosta.
No fim das contas, com o acordo o ThinkSecret conseguiu manter sua fonte anônima, ao custo de sua "vida". Espero que essa decisão tenha sido considerada como a única alternativa para proteger uma fonte (a alternativa nobre) e não como uma chance de tirar uma grana extra (a alternativa podre). Mas parece que estou enganado, já que o advogado do ThinkSecret está falando por aí que a Apple saiu perdendo e a liberdade de expressão venceu, não consigo entender como aceitar um suborno para calar a boca é uma vitória. Honestamente, me parece que ninguém saiu ganhando, já que o site foi calado e a Apple não conseguiu a informação que queria.
Como disse, concordo que o vazar de informações constitui um problema para a Apple (como para qualquer empresa), mas esmagar um agente externo por causa de um problema claramente interno me soa bastante injusto. A Apple deveria de fato rever internamente como a informação e o treinamento de seus funcionários atua para evitar que esse tipo de coisa se repita, já que ela preza tanto pelo sigilo.
Jornalistas por opção, uni-vos!
1 comentário:
excelente post
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