quarta-feira, maio 12, 2004

i'm set free

O André é mesmo o cara mais desligado do mundo. Encontro com ele no ICQ e ele fica falando de como está apaixonado e com saudades da namorada dele de Brasília. Pouco mais de uma hora depois encontro com o Alastair no MSN e ele me conta a notícia que realmente importa: O pai do Zecão morreu. Devo ter sido o último a saber, até a Sara tava interada no assunto! Parece egoísta, e talvez seja o mesmo, mas me senti ofendido por ninguém ter me contado, obivamente os que perderam o pai não tem obrigação nenhuma, isso não precisa nem ser dito, mas eu pensei que nossos outros amigos em comum poderiam ter me informado...

Vou resumir bastante pra quem não sabe de nada: Zecão é um dos meus amigos da velha guarda de BH. Conheci na época em que morava lá, e era parte do pessoal com quem eu sempre andava, e com os quais boa parte ainda ando quando vou pra lá. O pai dele, o César, tava com graves problemas de saúde há mais ou menos um ano, pra variar era câncer, ele teve uma certa melhora há poucos meses, mas começou a abusar da sorte, fumando e pegando o carro pra dar umas voltas.

Ás vezes eu penso coisas tipo: "e se meu pai morresse do nada agora?" e minha conclusão geralmente é: Estaria fudido. Não que minha vida iria ficar uma bosta e eu iria pra debaixo da ponte e pro fundo do poço. Fora o impacto emocional de tal situação, eu teria que correr atrás de um número infinito de negócios em que meu pai está envolvido; coisas da fazenda, da minha avó, do espólio do meu avô (que até hoje existe!) e sabe-se lá mais o que! É uma situação bem complicada e que me assusta um pouco, mas que uma hora ou outra enfrentarei, o que posso tentar fazer é amenizar o fator assustador e me interar da vida agora.

Mas voltando um pouco. O que a gente pensa quando ouve é mais ou menos o que o luiggi me disse aqui no ICQ agora a pouco: "de repente o cara não existe mais na terra". Eu fico pensando nele, relembrando as vezes que encontrei, que conversei com ele, como era o rosto e tudo mais. O César era muito gente fina. Quando se é mais novo, e mesmo hoje em dia, os pais dos seus amigos costumam te tratar igual besta, alguns te ignoram como se vc fosse sub-humano ou ficam tirando sarro da sua cara por vc ser "café-com-leite"; embora eu já não fosse tão criança quando fui pra BH, era aquela idade em que muita gente ainda te trata assim e você quer porque quer provar que não é mais; acho que o pai do Zecão foi um dos primeiros a me tratar mais de igual pra igual, conversar numa boa e tudo mais, só me dei conta disso agora.

É sempre uma sensação e uma situação estranha. Às vezes a morte parece não pesar tanto assim, mesmo com alguns parentes, eu não liguei muito pra algumas idas simplesmente porque eram pessoas que não foram realmente parte da minha vida em ponto algum. Claro que acho ruim elas terem ido, desejo as asas da morte apenas para um seleto grupo. Assuntinho complicado.

As vezes que a morte passou mais perto de mim foram: Quando a Liliane, filha do meu padrinho morreu por causa de complicações do tratamento de câncer; eu tinha uns 14 anos e ela era da minha idade, o que mais me impactou não foi a morte dela, não tinha muito contato, mas ver como os familiares dela estavam devastados. Quando meu avô morreu, claro, eu o adorava e nunca chorei tanto na minha vida, foi horrível e rende muito papo ainda. Quando uma menina colega de sala minha em BH, morreu de cancer nos ossos, eu já tinha voltado pra SP e nunca tive muito papo com a menina; mas a notícia me assustou, a gente se sente invulnerável até alguém da nossa idade morrer. E agora isso, o pai de um amigo. Outros parentes, inclusive meu outro Avô e uma Tia também pularam fora, mas eu era pequeno, e não foi um grande impacto pra mim, tenho apenas algumas lembranças esparsas.

Puxa, nunca me vi nessa situação, mas assim como a outra situação que mencionei mais acima, ela viria uma hora ou outra. É mesmo uma pena, seria mais fácil se não viesse, mas se fosse fácil, num chamava viver. A vida as vezes é um saco, mas o fim dela é algo muito agressivo pra mim. Devo ligar pra ele em breve pra dar uma força. Agora é torcer pra que tudo siga numa boa, e que o Zecão, o Rafinha e a Raquel consigam lidar bem com isso e continuarem sendo pessoas das quais o césar se orgulharia.

Em homenagem e em memória vou deixar essa música do Velvet Underground. Foi uma das primeiras que conheci e eu adoro. É apropriada pois lembro que o Zecão curtiu quando falei de Velvet pra ele e também porque na minha opinião ela fala do assunto do post:

Velvet Underground
I'm set free

I've been set free and I've been bound
To the memories of yesterday's clouds
I've been set free and I've been bound

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

I've been blinded but
You I can see
What in the world has happened to me
The prince of stories who walk right by me

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

I've been set free and I've been bound
Let me tell you people
what I found
I saw my head laughing
rolling on the ground

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

Sem comentários: