sexta-feira, maio 21, 2004

just like honey

Falarei em defesa do lindíssimo Encontros e Desencontros (Lost in Translation). Já falei o quanto gostei do filme aqui antes, e agora falarei um pouco mais sobre alguns aspectos (acrescendo que revi o filme recentemente com meus colegas da aula de Estudos Culturais na ECA e que a partir dele tivemos uma discussão sobre globalização).

Meu ponto principal é: Qual o problema das pessoas que dizem que o filme fica atacando a cultura japonesa? Já ouvi esse papo mais de uma vez e vou dizer que é papo de gente chorona. Em vários momentos vemos algumas esquisitices nipônicas sim, e Bob Harris (o personagem de Bill Murray) também dá algumas alfinetadas extras. Mas qual é o problema? O personagem do cara não é livre para ser maldoso? Não é justamente o sarcasmo e ironia dele que tantos gostam? E mais, vai me dizer que a sociedade Japonesa é perfeita? Não há nada de cômico em nada do que os japoneses fazem ou produzem? Claro que há! Existe isso em toda cultura, e é mais cômico ainda achar que não. Eu adoro o Japão e a cultura japonesa, mas nem por isso deixo de notar algumas coisas que fogem do meu padrão, o que também não significa que elas estejam de todo erradas. É claro que quando se vai para um pais tão fisicamente distante, e onde não se fala patavinas da língua, você se sentirá o maior alienígena do planeta, porque simplesmente você o é; isso não torna você ou as pessoas daquele país melhores ou piores, apenas realçam-se as diferenças, e acho que isso é bem mostrado no filme. E, ainda por cima, o filme retrata bem justamente o que discutimos nas aulas, os efeitos da globalização.

E outro ponto é: Falta de história. Pessoas reclamam de falta de história no filme. Bem, eu digo ele tem muito mais história do que o interminável Pearl Harbour (com "u" mesmo, viva a Britânia - aliás um ótimo exemplo de como a cultura de um pais, de novo o Japão, pode ser estereotipada e caricaturizada negativamente em um filme). Uma coisa muito importante é compreender a estrutura básica de roteiro hollywoodiana, que segue a chamada "trajetória do herói" (pessoalmente não concordo com a utilização desse termo para algo tão limitante quanto essa estrutura, mas quem sou eu?) e ela segue assim: Primeiro ato (apresentação dos personagens) - 1º plot point (um problema a ser solucionado pelos personagens) - Segundo ato (inicio da resolução do problema) - 2º plot point (um problema inesperado) - Terceiro ato (conclusão, onde a resolução do 2º problema se mostra eficiente para resolver também o primeiro e todos vivem felizes para sempre).

Existem pequenas variações nessa porcaria mas a idéia é essa. Existem bons filmes que usam essa estrutura, mas a maioria varia entre médio e grande saco de merda. Encontros não segue essa estrutura. Não vou aqui contar o filme. O equívoco de achar que todo filme feito por americanos é holywoodiano contribui ainda mais para uma interpretação totalmente equivocada de Encontros. É um ótimo filme que fala de vários problemas em diferentes camadas, diz a que veio e cumpre o que promete.

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