domingo, agosto 22, 2004

lula cavalheiresco

lula cavalheiresco

Escrevi esse texto quando houve aquele escândalo envolvendo o Lula e aquele correspondente americano acusando-o de ser um beberrão. Acabei não postando mas acho que recebi outra chance, já que essa polêmica do Conselho Federal de Jornalismo parece diretamente relacionada com o caso.

"Em suma, em se tratando de injúrias ou insultos, seja por palavras ou atos, assevero que esses podem irritar e aborrecer um homem sensato, mas de modo algum tocam a sua honra, porque esta consiste na opini~ao que se tem sobre ele e que não pode alterar-se por coisas que lhe são exteriores, a não ser no caso de pessoas de mente muito fraca, cuja opinião não conta. Um homem sensato pode, por conseguinte, extravasar sua irritação ou seu desgosto por meio de uma reação proporcional ao fato, mas isso deve ser mais tolerado como fraqueza humana do que como um dever que lhe é exigido para salvar sua honra. E, portantto, se contrariamente ele pensa o suficiente para não se importar, sua honra, em vez de sofrer suas conseqüências, poderá até mesmo ganhar com isso."

(Schopenhauer, Arthur.
A Arte de se fazer respeitar ou Tratado sobre a honra, pag 80-81)


A lição basicamente é: Apenas você pode prejudicar sua honra. Se alguém maldiz você, sem dúvida lança uma sombra negativa, mas se o ato não procede, se esvairá e se você agir sensatamente, tudo ficará bem. Se reagir fora das proporções, poderá realmente prejudicar sua honra. E é o que o governo brasileiro fez.

Vejo aqui a repetição de um comportamento por parte de figuras públicas brasileiras. Lembram-se do caso dos Simpsons em que César Maia se sentiu ofendidissimo com o retrato de sua cidade pela equipe de Matt Groenig e ameaçou processar a Fox? É o mesmo caso! Ao invés de se fazer merecer um elogio, as autoridades se fazem merecer calúnias, e essas, quando feitas, são punidas com ações desproporcionais e infantis. E mais uma vez, a reação das autoridades brasileiras conseguiu atrair mais atenção da midia doméstica e internacional do que o ato que a acarretou, mais uma vez denunciando contra a honra nacional.

O caso Lula bebum é reminescente da ditadura militar. A revogação do visto do jornalista não procede e no meu ver é um abuso de poder. Só porque ele é o presidente não podemos falar o que quisermos dele? Justamente por ser presidente é que devemos falar o que quisermos deles. É o fardo da figura pública, e se ele não sabe lidar com isso, que renuncie e perca outro dedo.

Lula, se fosse sensato, no máximo chamara o cara de bebum também, ou corno, ou viado, ou coisa que o valha. Mas esse avantage apelativo teve o efeito reverso e demonstrou a fraqueza perante críticas da qual o governo sofre. Ou mais simples ainda, bastaria citar Sócrates em dois momentos:

"Se um asno tivesse me batido, teria eu o acusado em juízo?"(Diógenes Laércio, Vidas dos filósofos, II, 5,21)

"Não, o que ele diz não me toca" (Diógenes Laércio, Vidas dos filósofos, II, 5,36)

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