sick city
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Em frente à rodoviária de Belo Horizonte existe uma praça, e entre essas duas construções passa uma avenida cujas mãos são dividias por uma ilha bem generosa. Generosa o suficiente para que vagabundos fiquem sentados nos canteiros de planta.
Estava indo com a Mi comprar minha passagem de volta quando ela comentou que não gostava de passar pela praça por causa dos vagabundos. Eu já tinha feito esse percurso várias vezes e nunca me senti incomodado. Mal ela terminou de dizer isso e um deles começou a andar em nossa direção falando coisas como "ô rapaz!"; "doutor"; "amigo" e afins. Eu sequer virei o rosto e continuamos caminhando para atravessar a outra mão da avenida. Segundo a Mi, que viu a cara da figura, ela estava toda nojenta cheia de algum líquido, como lágrimas falsas.
Olhei rapidamente e vi que um ônibus estava se aproximando. Então apertei o passo imaginando que o ônibus se colocaria entre eu e meu assediador, livrando-me de maiores problemas. Então estava quase do outro lado da rua, no estacionamento da rodoviária quando ouvi um barulho. Virei para trás e vi o ônibus freando em cima do sujeito, atingindo-o de leve, o suficente para ele dar alguns passos para trás sem cair. Ele ficou um pouco desconcertado e voltou para a ilha.
Acho que essa foi uma das coisas mais insensíveis que fiz na vida.
Sempre fico em um dilema com pedintes, e sempre tenho medo que se tornem assaltantes. A filosofia de não sustentar vagabundo e não incentivar trabalho infantil é boa; mas as vezes entra um sentimento de compaixão misturado com culpa. Já fui assaltado e nunca reagi. Não sei se teria tanto sangue frio. Não aprovo violência. O sujeito pode ser mesmo um ladrão, vagabundo filho da puta, mas não o espancaria por isso. Talvez um chute no saco, mas acho que nem isso.
1 comentário:
Graças a Deus ! Lendo o post, fui direto para o final com medo de vc ter sido assaltado ! O Assunto dá pano pra manga. Eu sempre carrego umas moedas para dar p/ os outros (guardador de carro, mendigo e etc), *antes* de ser assaltado.
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