as coisas que você possui acabam possuindo você
Clube da Luta é mesmo um filme sensacional. E pretendo ler o livro eventualmente, mas para isso meu marasmo literário tem que ter passado há um bom tempo (e isso é outro problema). Lembro há um tempo atrás que o filme era uma febre entre meus conhecidos, todo mundo falava dele, e o quão incrível é.
Mas o que sempre me fascinou é como a maioria das pessoas que gosta do filme não entende do que o filme está falando. Claro que eu posso estar enganado quanto à minha interpretação, pode ser que como no caso de Tyler Durden, Clube da Luta se passe por uma coisa para falar de outra tão obscura que apenas um grupo muito seleto seria capaz de compreender.
O problema é que eles adorariam pagar R$50,00 em uma barra de sabão de plástico escrito "clube da luta" ou mesmo sabonetes de verdade da Paper St. Soap Company por R$20 ou mais a barra.
Calvin Klein, DKNY, IKEA, Macintosh, Microsoft, Starbucks, VISA, MasterCard, New Beetle; são todos símbolos que o filme destrói especificamente, entretanto muitos de seus fãs ainda os perseguem com afinco. Como se ter Windows Vista instalado no computador irá torná-los iluminados.
"Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar coisas que não precisamos" é uma citação direta de Tyler. Quantas pessoas você conhece que odeiam seus chefes e em seguida dizem "Mas está tudo bem, comprei um celular com câmera agora." Concordo que as coisas não são tão simples quanto Tyler diz, e que muitas vezes é necessário ceder à máquina e escapar um pouco da banalidade da vida com aquisições fúteis; eu faço isso também, somos todos humanos afinal. Só não podemos fazer do escapismo uma dependência, e depois rotina.
É como a cena de Maria Antonieta em que a personagem título está experimentando sapatos e entre eles há um Converse All-Star (que eu não vi :P). Todo que tem all-stars achou esse detalhe absolutamente sensacional, não pelo que Sofia Coppola estava tentando mostrar, mas porque Maria Antonieta tinha um All-Star.
No fim das contas, acho que o principal é saber o que estamos fazendo, porque estamos fazendo e se não é aquilo que queremos fazer, agir para equilibrar a balança. Senão torna-se apenas inércia.
Cada vez mais percebo o quanto as pessoas desvalorizam relações e atitudes que não tenham um valor monetário envolvido. Se você faz algo apenas por fazer ou por amor, costuma ser questionado.
Lembro de uma semana em que trabalhei na campanha para uma operadora de celular, promovendo um "artista" musical que desprezo. No sábado seguinte participei de uma manifestação bem-humorada diante de uma de suas lojas. Fiz a campanha para ganhar meu salário e comprar DVDs, e fiz a manifestação para comprar minha alma de volta. Preciso de mais semanas desse tipo.