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Eu dou aula para deficientes mentais na Estação Especial da Lapa. É na verdade uma oficina; oficina livre. Mas tenho alguns planos pra eles, bwahahahah.
Aos poucos eu recebo aquelas gratificações que todo professor curte (ou deveria). Dois alunos já me disseram que sou um bom professor. Uma aluna já elogiou minha escolha musical (tinha colocado um cd do Yo La Tengo) e por isso me deu um beijo. E outro aluno demonstrou um grande avanço e capacidade de assimilar o que estou tentando passar.
Uma das coisas que sempre achei ruim é que não informavam qual a deficiência ou doença (sempre é mental, mas alguns tb tem limitações físicas) pois acho que isso é importante para entender as limitações de cada um e também por uma questão de segurança dos próprios alunos. Bem, eles não informavam...
Hoje chegou uma lista de presença nova, onde estão listadas as deficiências e doenças de cada um. Alguns são bem genéricos e outros mais específicos. Descobri por exemplo que tenho um epilético entre meus alunos.
Mas o que me deixou mais pensativo foi a Maria das Graças. Ela visivelmente tem algo "forte", pois não anda, tem problemas motores nos braços e mãos, tem uma mandibula estranha, fala embolado e baba. Descobri que ela tem paralisia cerebral. Curiosamente, caminhando do ponto de ônibus até a Lapa eu até fiquei pensando nisso, de deficiências e paralisia cerebral me passou na mente. Esse nome é tão forte, paralisia cerebral, e dá o que pensar. O mais intrigante de tudo é que, mesmo com todos esses problemas associados à deficiência dela, a Maria é uma das alunas mais criativas e inteligentes que tenho. Ela entende todas as minhas instruções, sempre está de bom humor e é um dos poucos lá que não fica só desenhando casas.
Faz você pensar.
Fiquei alguns segundos pesando aquelas informações antes de seguir com a aula.
Talvez exista uma grande vantagem em não saber qual o problema de cada aluno. Você tem que descobrir as limitações de cada um. É preciso testar, atingir a barreira, você não a teme, pois não tem idéia de onde esteja. Você se força e força seu aluno. E no processo, pode acidentalmente forçá-lo a ultrapassar a barreira.
Talvez a barreira estivesse só nas pessoas à volta dele. Que imaginavam haver tal barreira, e o tratavam baseado nesse conceito. Um conceito errado.
É nessas horas que chego a pensar:
Ignorância é uma bênção
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