quinta-feira, julho 08, 2004

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"Gostaria de agadecer à Austria por nos ter dado o governador da Califórnia. Poderemos vir a ter nosso primeiro presidente austríaco. O que é bacana. Os alemães tiveram um presidente austríaco, e agora nós também podemos ter um."
Michael Moore, em entrevista coletiva, Bush não é o bastante. Folha de S. Paulo. Ilustrada, p. E10.

Que frase infeliz. Extremamente. É de um preconceito e uma ignorância ímpares. Eu estou ciente de que todos nós falamos asneiras de vez em quando, mas é preciso ser mais atencioso quando estamos dando uma coletiva para a imprensa internacional. Moore está me cansando.

Eu adorei Tiros em Columbine e estou ansioso por ver Fahrenheit 9/11, e não duvido que seja bom. Creio que ao fazer filmes Moore está em seu território e sabe explorá-lo para dizer o que pensa. E é isso que quero destacar: Dizer o que pensa. O que não necessariamente é a verdade. Tiros é um filme muito bom que fez perfeito sentido e acho que mereceu tudo que levou (mesmo eu não acreditanto em Oscars, se quiserem, podem pular esse). E dentro disso, devemos nos lembrar que ninguém é imparcial, todo documentário tem algum objetivo e achar que mesmo cineastas que mostram as trágicas vidas de deficientes mentais tem algum tipo de objetivo (nesse caso costuma ser arrancar o máximo de lágrimas). Alguns podem até ser malignos, vai saber. No caso de Tiros, o objetivo não me pareceu leviano, pelo contrário, chamou atenção para um problema bastante explícito e pouco me importa se Moore usou métodos pouco ortodoxos para provar suas idéias, tal como dar uma de Otávio Mesquita na casa do Charlton Heston. Fahrenheit 9/11 ainda espera meu julgamento.

A questão é que os livros de Moore são outra história. Ele não é tão bom autor quanto é cineasta, e não é tão bom pesquisador nesse sentido. E em vários momentos parece tão retrógado e mongolóide quanto Bush. Como na questão (que aparece no filme Roger e Eu proeminentemente) de que as fábricas americanas irem para países de mao de obra mais barata é algo ruim para os EUA. Pobres trabalhadores yankees, não é mesmo? Ninguém para pra pensar nos trabalhadores mexicanos ou brasileiros? Que tal melhorar as condições de trabalho em todos os lugares e aí veremos onde é justo ou injusto colocar uma fábrica. Choramingar por desemprego é uma coisa, não ter dignidade é outra.

Assim, somos oubrigados a ouvir essa asneira sobre a Áustria. Até agora Moore estava indo até que muito bem, mesmo com alguns tropeços. Mas isso foi absurdo. É como quando um amigo meu levou o pé na bunda de uma japa, desde então a família só fala mal de japas, claro, afinal, se uma é uma destrói-corações, todas devem ser; mas aposto que eles não se lembram de todas as outras ocidentais que fizeram o mesmo com o pobre rapaz. Por essa lógica, os EUA não deveriam ter um presidente norte-americano, já que Reagan, Nixon e os Bushes eram todos americanos e uns grandes filhos da puta que enganaram seus governados e o resto do mundo com planos traiçoeiros que custaram vidas.

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